Francisco Ornelas da Câmara, capitão-mór da Vila da Praia da Vitória, foi um dos fidalgos terceirenses que muito se evidenciou, quando, por ordem de D. João IV, veio à Terceira, então ocupada pelos castelhanos, com o encargo de reduzir à obediência de Portugal o poderoso castelo de S. Filipe (hoje de S. João Baptista), onde os espanhóis, já expulsos de todos os pontos da Ilha, se tinham albergado e ofereciam resistência e combate aos terceirenses. A indómita vontade do Capitão-mor da Praia, servida de alma e coração pela dos Terceirenses, conseguiu o que então se afigurava impossível: a rendição do Castelo.
De volta a Lisboa para comunicar a El-Rei o sucesso, concedeu-lhe o Restaurador várias honras e mercês, entre as quais a de o colocar à direita do trono por ocasião da recepção do paço. Contudo, tal prerrogativa só lhe trouxe invejas e inimigos que o acusaram de traição à Pátria, pela maneira por que alcançou a rendição do Castelo. Encarcerado e longe das testemunhas que o poderiam defender, foi condenado à morte. Porém, precisamente no momento em que os juízes iam assinar a sentença, entrou uma pomba branca na sala e, esvoaçando sobre a mesa, fez entornar o tinteiro que, derramando a tinta sobre o papel onde estava escrita a condenação do inocente, o inutilizou.
Alvoraçaram-se os juízes perante o extraordinário acontecimento, que expuseram ao monarca. Francisco Ornelas da Câmara, depois de várias investigações junto do governador do castelo de Angra, Manuel de Sousa Pacheco, foi declarado inocente e investido de todas as suas honras e posição anteriores. Em cumprimento de uma promessa feita ao Espírito Santo, se fosse provada a sua inocência, e vendo, no caso sucedido com a pomba, um milagre do Parácleto, resolveu dar bodo no dia de Pentecostes aos pobres, que serviu descalço, e mandou eregir uma ermida em honra do Espírito Santo (que ainda hoje se encontra na cidade de Angra do Heroísmo, no lugar dos Quatro Cantos) e incluir no seu brasão uma pomba como emblema do Espírito Santo.
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